Existem diversas Creepypastas sobre videogames assombrados e coisas desse tipo por ai... Freqüentemente as lia, e sempre julgava tudo como histórias falsas e estúpidas, apesar de serem muito divertidas. Eu nunca esperava que algo semelhante acontecesse comigo. Parece que as piores coisas sempre tendem a acontecer com os mais desavisados, não é?
Bem, eu estava em um momento de decepção na minha vida. Eu havia ficado muito doente e fui forçado a abandonar a faculdade. Eu odiava ter meus sonhos colocados em espera, e estava sofrendo de um caso leve de depressão por causa disso. Mas ainda havia um conforto que só acontecera por estar de volta em minha casa, que me tranqüilizara um pouco. Mas ainda havia o tédio que eu tinha que lidar. Sem emprego, sem faculdade, e eu odeio dizer isso, mas, meus amigos, a maioria ainda na faculdade, fizeram com que cada dia se arrastasse lentamente. Os dias que passava vendo TV e filmes antigos na sala de estar me deram inspiração para encontrar uma maneira de aliviar meu tédio crescente. Minha biblioteca de VHS e DVD’s tinham diminuído para apenas meus filmes antigos desgastados da Disney, então decidi assistir a um dos meus filmes favoritos de todos os tempos: O Rei Leão. Os pequenos e coloridos filhotes de leão me fizeram lembrar de uma parte quase esquecida de meu passado: O velho jogo do Rei Leão para PC, The Lion King. Eu costumava jogar sempre quando criança. Minha mãe e eu passávamos horas tentando vencer aquele antigo jogo.
A cachoeira de memórias me levou para meu quarto antigo, onde o velho computador ainda se encontrava na mesa em um canto. Eu estava tão orgulhoso quando comprei aquele computador, que quando tinha 11 anos, economizei o suficiente de minha mesada para comprá-lo eu mesmo. Foi emocionante ver a tela de início e ouvir o som antigo de inicialização do Windows XP. O enorme e velho Compaq Presario ligou novamente, e então eu cliquei no botão Iniciar para procurar pelos meus jogos antigos. Infelizmente, a pasta do jogo estava vazia. Decepcionado, perguntei para minha mãe o que havia acontecido com todos os nossos jogos. Ela parecia um pouco triste, provavelmente vendo a insatisfação em meus olhos. Ela me disse que desde que eu havia comprado um novo notebook, mais ou menos um mês atrás, meu pai estava pensando em vender o computador antigo. Ele tinha removido todos os jogos e alguns documentos antigos. Ela então sugeriu que eu perguntasse ao meu pai se ele havia guardado algum deles.
Mais tarde naquela noite meu pai voltou de seu emprego na fábrica, cansado e desgastado. Ele capotou no sofá e fez o que sempre fazia para relaxar: pesquisar coisas em seu laptop. Então eu me aproximei e perguntei o que havia acontecido com minhas memórias da infância. Ele lamentou ao dizer que achava que eu não me preocuparia mais com tudo aquilo, e que havia excluído. Eu estava claramente triste com isso, e tinha ficado ainda mais ansioso para jogar meu jogo favorito de infância. Odiando ver sua filhinha (filhinha de 19 anos) chateada, ele disse que iria entrar na internet e tentar fazer o download do máximo de jogos que conseguisse encontrar, por meio de sites de freeware e etc.
Felizmente, meu pai conseguiu encontrar e baixar de o jogo The Lion King, por coincidência meu favorito. Primeiro de tudo, este jogo não é como os jogos mais modernos da Disney. Ele não é um centro de atividades infantis ou um jogo de história infantil. Era de história, sim, mas era um jogo de ação. A essência era que você começava jogando como o Simba Jovem, enquanto derrotava vilões e animais mais inocentes e fáceis, como camaleões, porcos-espinhos, sapos, aranhas, abutres e os vilões mais difíceis: hienas. Simba podia derrotar esses adversários simplesmente pulando em cima deles (exceto pelos porcos-espinhos. Você tinha que rosnar para fazê-los virar de ponta cabeça, e depois pular em cima deles). Já o Simba Adulto era estranhamente mais violento. Ele podia arranhar, cortar, avançar, e virar seus inimigos, alguns deles até mesmo mostrando pequenas quantidades de sangue pixelados que voam deles a cada batida. Nada sangrento, e você nunca via os ferimentos dos inimigos, mas quando eu tinha quatro anos, aquilo parecia ser uma grande carnificina.
Na manhã seguinte, eu estava contente em ter a casa toda só pra mim, para poder jogar aquele clássico novamente. Meu pai estava no trabalho e minha mãe havia viajado para Lexington, Kentucky para ajudar minha avó de quase 80 anos de idade. Era em momentos como este que eu agradecia por não ter irmãos. Peguei um pacote de de M&M’s e um pouco de chá doce, e voltei para meu quarto. Meu pai tinha transferido o jogo para o computador antigo na noite anterior, mas não tinha testado para ver se funcionava ou não. Rezei para que funcionasse, e cliquei no aplicativo. Para minha alegria, ele funcionou, e eu assisti a pequena introdução do game; uma imagem da Pedra do Rei com Rafiki erguendo o bebê Simba. Apertei Enter para iniciar o jogo. A tela escureceu, e Timão apareceu dizendo as velhas palavras que sempre diz no começo do jogo: “It starts”.
Consegui passar pelas fases coloridas do jogo com facilidade. Lembrava de todos os truques, bônus e itens secretos. Tudo correu bem, e eu estava me divertindo bastante, assim como costumava ser quando era criança. Depois de um bom tempo, cheguei no último nível: A batalha final entre Simba e Scar na Pedra do Rei. Cheguei até a metade da fase, lutando contra Scar duas das três vezes e matando hiena após hiena. Eu estava tendo um jogo quase perfeito, até que cometi um erro. Eu julguei mal um salto e errei a plataforma que estava tentando acertar, o que resultou em Simba caindo no meio da escuridão do abismo. Não era a primeira vez que eu havia morrido, mas por alguma razão, foi a partir daí que as coisas começaram a dar errado. Ao invés da tela simplesmente desvanecer para preto e me mandar de volta ao começo da fase, como normalmente faria, a tela começou a piscar em cores aleatórias, principalmente em vermelho, preto e roxo, e um barulho que não estava no jogo. Eu deveria saber, pois joguei-o centenas de vezes, e memorizei cada parte. O barulho era do filme. Era da famosa cena da Debandada de Gnus, onde Mufasa caia para sua morte, e onde Simba grita "NÃO!". Então de repente, houve um som tão alto e irreconhecível que eu pulei de susto e desliguei minhas caixas de som.
Pensei que aquilo poderia ser somente uma versão modificada do jogo, que alguém pensara que iria tornar o jogo melhor adicionando clipes de som direto do filme, daí liguei novamente minhas caixas de som. Mas, então, ao invés de retornar à fase onde eu estava, o jogo reiniciou por completo. Isso me irritou bastante, já que eu havia chegado tão longe, e que em nenhuma das outras vezes que eu havia morrido acontecera isso. Mas então, a tela de início mudou. Ao invés da alegre tela de introdução que eu me lembrava da minha infância (ou de algumas horas atrás, nesse caso), aparecera uma tela escura, embaçada e estranhamente colorida; vermelho, preto e azul. Aquilo quase se parecia com uma foto noturna da tela original. Mas eu imaginei que era apenas uma pequena falha no jogo, e com isso, apertei Start de qualquer maneira. Ao invés do Timão dizendo suas palavras de sempre, havia um enorme texto, escrito em vermelho e piscando em frente ao fundo negro. Quando parei pra ler, reconheci a frase na mesma hora: “As fronteiras que separam a vida da morte são as melhores no sombrio e vago. Quem dirá onde o termina, e onde começa o outro?". Era uma citação de meu autor favorito, Edgar Allan Poe. Eu estava um pouco feliz em ver uma de minhas frases favoritas no jogo, mas não tinha como não me sentir um pouco insegura também. Por que aquilo estava em um jogo da Disney? E eu tinha certeza absoluta de que aquilo não pertencia ali. Mas de qualquer maneira, continuei jogando.
A primeira fase estava toda errada. Primeiro de tudo, eu não tinha nenhuma vida, quando deveria ter oito. Segundo, o céu estava escuro. O primeiro nível era geralmente alegre e ensolarada. Mas o pior de tudo, era o Jovem Simba... Ele estava deitado em uma posição que não era normal, meio corcunda e cabisbaixo. Ele também parecia estar tremendo. Isto definitivamente não era normal! Eu tentei movê-lo com as teclas de seta, e ele foi lentamente estendendo as patas e se arrastando pelo chão, deixando um rastro vermelho atrás dele, como uma lesma deixando um rastro de gosma. A progressão foi lenta, mas o clima de outono nítido do lado de fora havia me deixado muito animada para o Dia das Bruxas, então decidi continuar jogando esta nova versão macabra de meu jogo favorito. Quando eu precisava para pular para uma plataforma superior, o filhote de leão saltava quase normalmente, exceto que a cada vez que ele encostava-se ao solo, ele fazia o mesmo som que normalmente faz quando é atingido por um inimigo, como se o salto estivesse machucando-o ainda mais. No final do nível, a hiena também estava um pouco diferente. Seus olhos brilhavam em vermelho, e parecia que ele havia sido arranhado varias vezes, pelas marcas em sua pele. Eu o derrotei com apenas dois saltos, e ele desabou no chão da maneira normal, para minha surpresa. Enquanto a tela mudava para preto, eu imaginava e me perguntava o que me aguardava nas próximas fases.
O que isso queria dizer?! Será que este jogo macabro estava tentando me dizer que Mufasa havia se soltado do penhasco de propósito ou algo assim? Não sei por quê, mas eu estava perturbada com esse pensamento. "Não seja idiota", pensei, "Não deixe que um jogo estúpido te deixe perturbada e chateada com leões de desenhos animados!". Apesar do nervosismo que eu estava experimentando, continuei a jogar e fui para a fase do Cemitério de Elefantes. Nesta fase, Simba estava surpreendentemente normal novamente! Graças a Deus! Levantando-se da maneira como deveria. Hmmm... Talvez o hacker havia se cansado e decidiu deixar este nível sem modificações. Infelizmente, meus pensamentos estavam errados. O cemitério de elefantes estava estranhamente desprovido de vida. Nenhuma hiena veio me atacar, como deveriam. Eu só pensei nisso como uma maneira fácil de sair de lá, e comecei a correr. Enquanto corria, aquele mesmo barulho alto e irreconhecível saiu novamente saiu de minhas caixas de som, desta vez ainda mais alto, tanto que as caixas chegaram a tremer com a intensidade do “grito”. Isso me assustou muito, e então eu imediatamente abaixei o volume, mas não cheguei a desligá-lo, porque estava com medo de perder algo interessante De qualquer forma, reparei que tinha uma coisa nova para me preocupar: O chão estava desmoronando lentamente sob os pés de Simba. Eu tinha que continuar correndo através do cemitério desolado para não cair na escuridão desconhecida abaixo de mim. Quando cheguei na área onde normalmente lutava com o ultimo grupo de hienas, o jogo ficou em câmera lenta, e uma voz fria, a mesma voz de Mufasa que eu tinha ouvido antes, disse a seguinte frase: "A morte é cruel para os justos e os injustos." Ele repetiu isso até eu chegar ao final da fase, onde Scar me observava de uma pedra mais alta.
Depois disso, sai de meu quarto e fui pegar uma garrafa de refrigerante para beber. As coisas estavam começando a ficar intensas de verdade, e eu estava em choque com toda a situação. Eu estava sozinha em casa, à noite, jogando uma versão macabra e doentia de meu jogo de infância favorito e não fazia idéia donde aquilo iria chegar. Mas por alguma razão, eu queria continuar, queria ver com meus próprios olhos o quão longe o hacker havia chegado com tudo aquilo. Pensei: “É apenas um jogo hackeado, certo? Não há nada demais nisso”. Então, juntando minhas energias, voltei para meu quarto. A tela ainda estava preta. Por um momento achei que o jogo tinha travado, mas para minha surpresa, quando sentei na cadeira, o jogo prosseguiu com a próxima fase! Foi como se o jogo tivesse parado por conta própria, como se soubesse que eu havia saído da sala. Talvez eu tivesse apertado a tecla Enter ao sair, sem perceber, mas não tinha certeza. De qualquer maneira, decidi continuar de vez, e então fui para a quarta fase do jogo, “Stampede”, e me preparei para ver o que me aguardava.
Mas, para minha surpresa, tudo estava normal neste nível! O céu estava azul, e o desfiladeiro rochoso estava bronze luminoso, assim como eu me lembrava. Metade de mim ficou agradecida, e a outra metade, a metade mais obscura que eu escondia da maioria das pessoas, estava entediada. Foi só no final da fase que as coisas alteraram. Depois que Simba escapou dos gnus, a tela cortou abruptamente para preto e, em seguida, começou a passar uma cena do filme... Bem, mais ou menos. Foi a cena em que Mufasa escalava as pedras para poder salvar Simba da debandada. Mas, então, algo diferente aconteceu. Foi mostrada uma cena onde Simba observa seu pai, lutando para chegar até o topo da montanha rochosa. Essa cena não estava no filme, só que a animação, em termos de qualidade, era quase tão boa quanto a do filme real. Simba estava chorando, como se soubesse que seu pai não conseguiria. Ele então parou de repente, e virou o rosto em direção à tela. Seus olhos estavam vazios, sem emoção, enquanto olhavam para mim. Então ele se levantou, e caminhou para frente. O ângulo da câmera mudou para mostrar um ponto de vista acima dele, e daí conseguimos ver para onde ele estava caminhando: A borda da montanha. O penhasco. O que era isso?! Eu só consegui assistir com horror, enquanto ele caia do penhasco, direto para a debandada abaixo.
Em seguida, a tela cortou para o rosto de Mufasa, ainda agarrado na beirada do precipício. Ele viu tudo. Ele viu Simba cair para sua morte. Seus olhos se encheram de lágrimas e ele olhou para seu irmão, Scar, sorrindo para ele. "O que você vai fazer, irmão?", Scar perguntou ameaçadoramente. Seus olhos brilhando em um vermelho estranho e suas unhas pra fora, "O que você tem para viver?"
"Nada", respondeu Mufasa, e em seguida, virou seu rosto para a tela: "Ninguém tem." Então ele se soltou da beirada e caiu no precipício. Em seguida, a tela mostra Scar, rindo histericamente, seu rosto lentamente se transformando em um crânio hediondo em forma espectral, parecendo uma espécie de fantasma de leão, enquanto a tela desvanecera para preto em volta do crânio. Então, ele sussurra: "Isso conta pra você também". Em seguida, ele riu e desapareceu.
Às vezes, no meio da noite, eu olho para o computador e vejo aquela caveira na tela. Sinto como se houvesse algo em minha casa. Ele está aqui. Minha mãe e meu pai não conseguem senti-lo. Suas inocências não foram tiradas deles da maneira que a minha fora. É por isso que estou escrevendo este texto. Meus sonhos viraram pesadelos. Minhas memórias doces se transformaram em traumatizantes. Não tenho mais nada para mim, então acho que seguirei o conselho de Scar. Estas são minhas últimas palavras, e me sinto obrigado a perguntar: "O que você vai fazer? O que você tem para viver?”
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