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Cerca de cinco anos atrás, aconteceu algo estranho comigo. Eu vivia com meus pais, na época eu tinha dezessete anos. Em um dia qualquer minha mãe me disse que ela teria de se encontrar com amigas a noite e como meu pai trabalhava de segurança na madrugada até o início da manhã, ela me disse que eu ficaria sozinho. Eu realmente não gostei nada disso. Quer dizer, é claro que eu estava animado para ter a casa só pra mim. Eu era um adolescente apesar de tudo, mas o índice de violência no meu bairro era alto, e eu fiquei preocupado. O tempo passou e minha mãe estava pronta para sair. Ela veio até meu quarto, disse que ela estava indo e que ela estaria de volta mais tarde. Eu balancei a cabeça, e disse “Tudo bem, eu ficarei bem...”. Ela começou a descer as escadas e logo depois eu ouvi o barulho da porta da frente se fechando.
Eu estava sozinho. Eu poderia imaginar um milhão de possibilidades para aquelas próximas horas, como chamar meus amigos, ou uma garota para... Bom eu sou totalmente leigo nesse assunto, acho melhor não... Então eu voltei para meu computador para jogar alguns jogos online.
Eu não tinha muito XP já que eu já havia jogado aquela manha, depois de meu personagem morrer eu desisti e decidi assistir televisão na sala de estar, eu levei comigo um caderno para rabiscar algum desenho se eu ficasse entediado com as reprises de “Friends”. Já era bem tarde quando minha mãe havia saído, e agora mais tarde ainda. Eu passei cerca de uma hora na frente da TV, comendo salgadinhos e balas. Eu realmente fiquei entediado, então acendi a luz do abajur e abaixei o volume da tevê, para poder desenhar em meu caderno. Conforme o tempo passava, comecei a ter uma sensação estranha, como se alguém estivesse me observando. Era desagradável então decidi olhar em volta, eu não sei por que, e meus olhos foram guiados até a janela atrás do sofá onde estava sentado. Eu acho que eu pensei que veria algo entre as árvores. Mas tudo que eu via era a escuridão do meu quintal, fechei as cortinas para que talvez a sensação passasse, e liguei a tevê e continuei a assistir, agora estava passando “Two and a Half Men”, e eu adorava.
Alguns momentos se passaram, e eu ainda estava inquieto. Eu tentei ignorar, mas... Eu não podia. Eu me senti como se alguém me observando estivesse perfurando meu ser. Eu pensei então, que eu sabia que não havia nada olhando para mim. Quer dizer, não poderia, não é? Eu estava dentro da minha casa, sozinho, com todas as portas e janelas trancadas, e cortinas fechadas. Eu não acreditava em demônios, fantasmas, ou qualquer outra coisa sobrenatural. Tudo isso era bobagem para mim. Mas eu não conseguia nem mesmo controlar aquela inquietação sinistra que eu sentia. Decidi desligar a televisão, bem como o abajur, para ver a luz que vinha através da cortina atrás de mim.
Eu olhei para a janela, agora coberta pela cortina, e eu vi... Absolutamente nada. Por um momento eu pensei que estava ficando louco. Eu nunca tinha sido tão paranoico assim. Eu não tinha nenhuma razão para isso. Me virei de volta para a sala, agora escura, pois não havia nenhum tipo de luz na casa, a única luz ali perto era dos postes na rua. Assim que eu estava me preparando para acender o abajur e terminar meu desenho, ouvi um estalo à distânte. Era o som de folhas sendo esmagadas pelos pés de alguém.
Cleck... Cleck... Cleck...
Meu coração acelerou e eu fiquei estático. Eu pensei comigo então, que com certeza alguém devia pensar que a casa estava vazia e iria entrar para roubar, eu senti um medo avassalador. Nós não tínhamos muitos vizinhos na época, já que as casas ao lado estavam sendo vendidas e não havia ninguém lá, ninguém para pedir ajuda. Havia com certeza algum curioso lá fora, uma pessoa aleatória lá fora. E por que alguém iria entrar num quintal alheio só para esmagar folhas, não fazia sentido... Eu tive que olhar para fora da janela novamente para aliviar a minha mente, então eu fiz... Não havia nada... Achei que era apenas um animal que estava ouvindo, algum esquilo. Assim que eu me virei para a sala, ouvi novamente.
Cleck... Cleck... Cleck...
Isso aconteceu mais 3 vezes, quando olhei pela janela. Então ele parou. Sentei-me no mesmo local pelo que pareceram horas. Eu tinha me tornado uma múmia paralitica, eu estava sendo sacaneado pela minha própria mente. Eu estava quase apavorado, eu tinha passado o ponto paranoico. Cada barulho eu fazia, me fazia pular. Meus olhos não podiam ver na escuridão da sala, eu estava perdendo minha coragem de olhar pela janela. Eu tentei ignorar a sensação de estar sendo observado... Mas era difícil. Eu senti como se o tempo tivesse parado, e esse sentimento estranho... Rapidamente se transformou em terror. Fiquei espiando por cima do meu ombro, e olhando ao redor do quarto tentando me lembrar, que eu estava sozinho. Eu estava com medo. Eu queria correr para o meu quarto, mas eu não podia, eu não podia me mover. Eu sabia que algo estava lá fora. Que algo estava olhando através da cortina atrás de mim, e me olhando. E então aconteceu de novo, mas desta vez ele estava mais perto...
Cleck... Cleck... Cleck...
Minha respiração ficou ofegante e eu comecei a chorar como um covardão, imaginando como seria se tivesse uma garota aqui comigo, ela já teria fugido... Então eu comecei a repetir para mim mesmo: "Eu estou sozinho. Estou sozinho. Estou sozinho. Lembre que você está sozinho! Por que você está com tanto medo porra!!?"
Eu não sei, em que momento foi que eu consegui coragem suficiente para olhar para fora da janela novamente. Mas desta vez... Foi diferente... Eu me deparei com uma figura negra. Apenas olhando para mim. Eu não podia me mover. As lágrimas escorriam pelo meu rosto. Ele estava de pé, inclinou a cabeça de lado ou o que eu supus ser a sua cabeça, estaria olhando para mim...
Esta figura... Esta figura negra... Assim que eu coloquei meus olhos sobre ele, eu sabia o que era. Era incrivelmente alto, e magro. Ele tinha uma pele quase sólida. Não tinha qualquer forma. Não era como um urso ou como um humano, ou qualquer outro animal. Ele não tinha rosto...
E então... O que eu me convenci de que era uma cabeça, se abriu ao meio e... Ele gritou. Eu pulei para trás com medo, deixando escapar um grito de minha autoria e as lágrimas que já estavam em meus olhos se tornaram um mar de desgosto pelo meu rosto. Eu me afastei da janela deixando uma fresta entre as duas partes da cortina. Ele ainda estava lá, bem na frente da minha janela, ameaçador e enorme.
Eu não sabia o que fazer.
Eu não poderia correr e deixar que aquela coisa me seguisse... Eu estava muito assustado... Eu não podia me mover. Eu não podia fazer nada além de olhar para trás. Ele tinha parado de gritar e estava me observando pela fenda, mas como se ele nem tinha olhos?! De alguma forma ele passou pela janela, e começou a avançar lentamente até mim. Eu ainda estava paralisado. Tentei gritar, mas não saiu nada. Ele foi chegando...
Mais perto...
Mais perto...
Mais perto...
Era como se ele tivesse algum tipo de poder sobre mim, pois eu não me movia. Ele só se aproximou até estar bem na minha cara. O Cheiro era horrível, se parecia com o cheiro podre de um animal queimado. Nem meu corpo nem minha mente poderiam lidar com o que eu estava vendo. Eu acabei desmaiando, por estar tão horrorizado.
Quando acordei, estava no meu limite. Eu não conseguia respirar direito, não me mexia, até que abri os olhos e vi a criatura estava arregaçando sua cabeça novamente. Essa coisa... Prosperava em meu medo. E só naquele minuto que eu percebi. Fechei os olhos, ainda deitado no chão, tentando fazer com que meu medo fosse embora. Eu sabia que se eu abrisse meus olhos o monstro estaria bem na minha cara, esperando para me engolir.
E eu comecei a cantar uma musica infantil...
"Vai vai vai remando o barco pelo rio...
Alegremente, alegremente, alegremente, alegremente,
A vida é um sonho..."
Eu cantei mais, e mais, e outra vez, até que ouvi a porta de um carro lá fora ser fechada. Alguém estava chegando em casa... E eu estava seguro. Eu esperei até que a porta da frente se abrisse para abrir meus olhos, e quando eu abri... Ele ainda estava lá. Eu não gritei, ou chorei, eu esperei por minha mãe, para ver se o via.
Eu estava ali deitado no chão, quase desmaiando novamente enquanto olhava para aquela coisa em cima de mim.
Ela veio até mim me olhando confusa, e me perguntou
“o que aconteceu?”
Tudo que eu consegui dizer foi:
"você vê isso?"
"Ver o quê?"
Meu rosto estava coberto por lagrimas, e baba de algum tipo.
"Você realmente não pode vê-lo, não é?"
Mais uma vez, ela respondeu:
"Ver o quê Aurelio?"
As lágrimas pararam de rolar pelo meu rosto, e eu de alguma forma, fingi que estava tudo bem. Eu sorri, e me levantei devagar do chão, me recompondo e disse me com a voz rouca que eu havia visto um rato gigante no quintal, e que ele tentou entrar em casa, ela acreditou em mim.
Passaram-se 5 anos desde que aconteceu, eu sei que ele ainda me observa...
Então por favor... Faça o que fizer...
Não alimente seus medos.
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