23 de jun. de 2014

- Monstros -

Olá, sou Jessy, mais conhecida como “a menina que virou monstro”... Como ganhei esse apelido é um caso mais complexo. Você já se imaginou comendo lagartos, moscas ou aranhas?? Pois bem, era o que eu tinha, e quando eu já não sabia o que era a palavra “raciocínio”, mas isso não foi nada, eu comi coisas piores, você nem ao menos pode imaginar e eu acho que só vou conseguir descrever boa parte até chegar meu fim.

Eu morava com minha família, mas eu sentia la no fundo que eles não me queriam, não sei o motivo, mas era o que estava tentando descobrir...  Não mexia em um único objeto de minha casa, não me pertenciam, as vezes, a noite, eu sempre ia sentar na beira de um poço, nem tão fundo e um pouco largo, passava horas observando a escuridão que havia no fundo, enquanto meus pais e meu irmão comemoravam o ano novo, fazendo festas ou coisas do tipo. Eu apenas ficava no quintal e não via ninguém em minha frente.
Certo dia eu comecei a querer mudar aquela rotina, perguntei o por que daquela situação, e se eu não merecia estar naquela família por que então deixaram que eu nascesse, foi quando ressaltaram: “não era nossos planos você nascer, você deveria ter caído em um vaso sanitário” ... Minha raiva ultrapassou os limites e larguei um jarro de vidro em qualquer direção quando sem querer pegou no centro da cabeça de meu irmão, ele desmaiou, ele é o mascote de ouro da casa, meus “pais” olharam com os olhares mais furiosos desse mundo, eu não os reconheci, parece que eles apenas queriam um motivo qualquer para fazer acontecer... naquele momento em diante eu era uma aberração pronta para morrer! Pude conhecer do pior jeito o lado negro que havia dentro deles, e foi pior experiência de minha vida, a partir de agora minha vida acaba ...
Fui jogada dentro daquele poço seco, sem água, sem comida, apenas minha pele fria e suja, pois nem ao menos roupa deixaram comigo, no primeiro dia eu apenas me assustei e muito, pois achava ser apenas um susto que eles queriam me dar.
Três dias se passaram e nada, eu continuava ali, sozinha, na escuridão, eu me sentava, pensava em como escapar, o que seria dali pra frente, se haveria ao menos o “dali pra frente” ... Oh! Como eu merecia ser abortada como planejaram antes e não deu certo. Se moveu então uma sombra la de cima, era de meu irmão, ele olhou pra baixo, viu minha pele suja, eu tremendo de frio sem roupa alguma e apenas meu cabelo pra me aquecer um pouco, e então meu irmão desceu um balde com um pouco de água pra mim, assim pude sobreviver mais, ele não falou uma única palavra e apenas saiu de perto, eu pedi ajuda pra me tirar dali, mas em vão, desde então continuei ali, ouvindo uns ruídos estranhos, e as trevas de verdade entrando cada vez dentro de mim, e não apenas ao meu redor...
Uma semana se passou, meus pais não queriam que eu morresse tão cedo, desceram uma sopa, bem foi o que pensei que fosse, estava escuro e não vi, lembro vividamente das palavras daquela mulher que não ouso chamar de outra coisa... “Coma e não ouse recusar, pois você tem apenas isso para sobreviver, você escolhe”. Eu com muita fome, quase morrendo, virei o prato na boca, quando senti o cheiro, o gosto... Era vômito, eles me deram vômito pra comer, bem, eu não tive outra escolha, minha situação estava pior.
O mau cheiro estava tomando conta do poço, já fazia semanas que estava ali, ou seilá, eu acho que era semanas, mas poderia ser meses ou ate mesmo dias, eu não tinha mais noção de nada, não sabia de mais nada além daquele local terrível, meu corpo estava se misturando com tudo, ao me deitar eu sentia a frieza no chão, o molhado de minha urina e o cheiro de fossa em meu nariz, eu chorava, mas ao mesmo tempo delirava, e conversava sozinha.
O dia amanhece, eu continuo ali naquele lugar... Tive uma ideia e peguei um pedaço de pedra, risquei a parede do poço contando meus dias ali, raciocinei um pouco e contei cada dia horripilante, quando terminei de contar... Estava ali há um mês... Seria melhor eu já ter falecido.
Eu estava viva ainda porque meu irmão me trazia água uma vez por dia. Os insetos então começaram a tomar conta do poço, fiquei doida, estava com vários ferrões. Porque eu estava sendo forte não tinha nem ao menos como se suicidar naquele lugar. Comecei a comer insetos para substituir o vômito que meus pais traziam ou quando a fome apertava de um modo que não sei explicar, eu matava as formigas com minhas mãos esquisitas, meus pés feridos, eu levava muita picada em minha boca... Depois das formigas passei a comer lesmas, aparecia lá e eram maiores, eu já estava morta, o que estava vivo ali era apenas uma capa bizarra de mim, não parecia ser mais humana...
Fui contando os dias, havia dois meses que eu estava ali, escrevi na parede “Se me encontrarem morta, agradeça aos insetos”
Quando eu já estava no meu limite, eu pratiquei auto canibalismo, comi meu braço esquerdo, aquilo parecia ser bem melhor, a dor desaparecia com minha fome saciada, com o gosto de carne em minha boca, meu irmão foi nessa mesma hora me deixar água, e viu aquela cena, eu olhei pra cima com os olhos mais furiosos que você pode imaginar, um olhar perverso, eu já era um monstro, não era mais uma menina, se eu pudesse matar ele com os olhos... Ele ficou tão horrorizado de ver aquela cena que disse “antes de amanhecer eu vou te tirar daí, enquanto nossos pais dormem” ... Eu parei e olhei para cima novamente, ele já havia saído de la, eu já sabia que não seria mais a mesma pessoa nunca mais.
Na madrugada meu irmão solta uma corda, mas eu estava sem forças, então ele teve que puxar... Quando eu subir pra fora do poço, não acreditando naquilo, depois de dois meses ali, de tortura psicológica e física, eu com meu corpo que parecia mais um esqueleto se movendo, meu braço faltando um pedaço e saindo muito sangue, quando meu irmão bota um pedaço de pano para estancar o sangue, eu novamente olho para ele com um olhar demoníaco, e dessa vez, não matei somente com o olhar, eu avancei em cima dele, arranquei a pele com meus dentes, mastiguei, tirei todos os seus órgãos pra fora, o coração foi a melhor parte que comi. Logo depois entre naquela casa que fez me transformar em um ser tenebroso, e fiz o que mereciam, torturei e matei meus pais, as pessoas que fizeram aquilo comigo!! gritos pela casa, sangue marcando a casa como merecia, abri a barriga de minha mãe e escrevi dentro com uma faca “Nós todos somos monstros”. Pois eu agora, somente consigo chegar ao meu fim, depois de assistir o seu primeiro!

fonte:mortuusetcruentum

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